No manejo de pastagens mistas, uma dúvida recorrente entre pecuaristas é: existe um capim que atenda bem tanto bovinos quanto equinos? A resposta é sim, mas a escolha exige critério, pois cada animal possui particularidades metabólicas, digestivas e comportamentais que impactam diretamente no aproveitamento da forragem.
Mais do que compartilhar o mesmo espaço, gado e cavalo precisam de uma pastagem que garanta valor nutricional, resistência ao pisoteio e boa palatabilidade. Assim, a escolha do capim certo torna-se um dos pilares da produtividade na propriedade rural.
Entendendo as necessidades de cada animal
Embora ambos sejam herbívoros, cavalos e bovinos têm sistemas digestivos bastante distintos. Enquanto os bovinos são ruminantes e aproveitam fibras mais grossas com maior eficiência, os equinos têm digestão mais delicada e exigem pastagens com fibras de boa digestibilidade, sem excesso de lignina. Além disso, os cavalos têm o hábito de selecionar mais o pasto e são mais sensíveis a solos encharcados ou infestados por fungos. Já o gado é mais tolerante, mas demanda pastagens que sustentem volume de massa e resistência ao pisoteio em sistemas de lotação.
“Na convivência entre os dois animais, é fundamental que a escolha da espécie forrageira leve em conta a estrutura da planta, sua maciez e a adaptabilidade ao manejo rotacionado, que é o mais recomendado nesse tipo de criação”, destaca o zootecnista Paulo Sergio Barros, consultor técnico de propriedades de ciclo completo no Centro-Oeste.
Espécies de capim com boa aceitação mútua
Entre as gramíneas tropicais, algumas se destacam justamente por sua versatilidade e valor nutritivo, sendo indicadas para uso compartilhado entre bovinos e equinos. O capim-tanzânia (Panicum maximum cv. Tanzânia) é uma dessas opções. Ele possui folhas mais largas, alto teor de proteína quando manejado adequadamente e boa rebrota após o pastejo, o que o torna interessante para áreas com pastagem rotacionada.
Outra alternativa consolidada é o capim-mombaça, também do gênero Panicum maximum, que oferece excelente produção de biomassa, rusticidade e bom índice de digestibilidade. Quando manejado em altura ideal (em torno de 90 cm para entrada dos animais), mantém a qualidade da forragem sem comprometer a segurança digestiva do cavalo.
“O capim-mombaça é muito bem aceito pelos dois animais, desde que respeitado o ponto de corte. A altura e o intervalo de descanso são determinantes para que ele se mantenha palatável e nutritivo”, reforça Carla Mendes, engenheira agrônoma e especialista em manejo de pastagens no bioma Cerrado.
Cuidados essenciais no manejo conjunto
Manter gado e cavalo em uma mesma área de pasto exige mais do que escolher a gramínea correta. É fundamental adotar um manejo rotacionado, com piquetes, descanso adequado da forragem e controle rigoroso da lotação animal. Isso garante que a planta tenha tempo de se regenerar, evita áreas degradadas e ainda contribui para a saúde dos cascos dos equinos, que são mais sensíveis a solos excessivamente úmidos ou compactados.
Outro ponto relevante é a evitação de gramíneas muito fibrosas, como o capim-andropogon ou o capim-colonião, que podem comprometer a digestibilidade para os cavalos, especialmente os que não estão em atividade física constante.
Além disso, é necessário cuidar do controle de parasitas e da limpeza da área de cocho e bebedouro, visto que equinos são mais propensos a problemas digestivos causados por má higiene.
Solo, adubação e clima: fatores que influenciam na escolha
As gramíneas do gênero Panicum, como o Tanzânia e o Mombaça, se adaptam bem a solos férteis e com boa drenagem. São exigentes em nutrientes, portanto, o uso de adubação de base rica em fósforo e nitrogênio é recomendado. Também se beneficiam de solos com pH entre 5,5 e 6,5 e apresentam boa resposta a práticas de calagem e correção.
Regiões tropicais e subtropicais, como grande parte do território brasileiro, favorecem o cultivo dessas espécies, mas o ideal é que as áreas de pastagem recebam insolação direta e tenham drenagem eficiente, especialmente para o bem-estar dos cavalos.
Escolher com sabedoria é garantir produtividade e bem-estar
Ao investir em uma pastagem mista, o produtor não deve apenas pensar na rusticidade da planta, mas também em sua capacidade de atender simultaneamente aos requisitos nutricionais e fisiológicos do gado e do cavalo. O equilíbrio entre produção, digestibilidade, resistência e aceitação pelos animais é o que define o sucesso do pasto compartilhado.
Por isso, seguir orientações técnicas e observar o comportamento dos animais em campo é a chave para construir um sistema mais produtivo, harmônico e sustentável.