Quando se fala em produção agropecuária, especialmente no Brasil, é comum associar a pecuária ao desmatamento e à emissão de gases de efeito estufa. No entanto, esse cenário tem mudado de forma expressiva.
Uma nova geração de produtores, técnicas e políticas vem dando protagonismo à pecuária sustentável, que alia eficiência produtiva, bem-estar animal e conservação ambiental.
A revolução silenciosa nos campos
A transformação começou com pequenas iniciativas de recuperação de pastagens degradadas, mas ganhou força nos últimos anos com a difusão de práticas como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo rotacionado de pastagens tropicais. “A adoção de sistemas integrados permite ao produtor aumentar a produtividade por hectare sem abrir novas áreas. Isso é sustentabilidade na prática”, afirma o engenheiro agrônomo Gustavo Carvalho, pesquisador da Embrapa Gado de Corte.
Nesse modelo, o solo é aproveitado de forma mais eficiente, com ciclos planejados de uso para cultivos agrícolas, pastagem e, em alguns casos, recuperação florestal. Os benefícios vão além da produtividade: o sombreamento proporcionado pelas árvores melhora o conforto térmico dos animais e reduz o estresse, contribuindo diretamente para o bem-estar animal.
A importância do manejo das pastagens
Um dos pilares da sustentabilidade está no manejo inteligente das pastagens tropicais, que representam mais de 70% das áreas ocupadas pela pecuária nacional. Técnicas como a rotação de piquetes, adubação equilibrada e controle de espécies invasoras promovem maior aproveitamento do capim e evitam o esgotamento do solo. Aliás, quando o pasto está bem manejado, o ganho de peso do gado é mais rápido, o que reduz o tempo de permanência dos animais no sistema, diminuindo a pressão sobre o meio ambiente.
“O solo bem manejado sequestra mais carbono, o que ajuda a compensar parte das emissões da atividade. É uma das estratégias mais eficazes para reduzir emissões de carbono na pecuária”, explica a zootecnista Paula Mendes, consultora em pecuária regenerativa.
Alimentação estratégica e menor impacto ambiental
Outro ponto fundamental está na suplementação alimentar para bovinos. Além de garantir os nutrientes necessários durante o período seco ou de baixa oferta de forragem, ela contribui para tornar o processo digestivo mais eficiente, reduzindo a emissão de metano entérico por animal. A escolha de suplementos com aditivos naturais, como óleos essenciais e leveduras, tem ganhado espaço por oferecer resultados positivos na produtividade sem causar desequilíbrios no ecossistema.
Combinada ao uso racional da água e à adoção de tecnologias como cercas elétricas solares, balanças eletrônicas e pastoreio monitorado por drones, a suplementação passa a integrar uma cadeia produtiva moderna e com baixa pegada ambiental.
Bem-estar animal no centro da produção
Uma pecuária realmente sustentável não pode ignorar o conforto físico e comportamental dos animais. A redução do estresse, por meio de práticas de manejo humanizado, sombreamento natural, acesso à água limpa e áreas de descanso apropriadas, impacta diretamente na qualidade da carne e na longevidade do rebanho. “Há uma relação direta entre bem-estar animal e produtividade. Animais saudáveis produzem mais, com menos intervenção”, destaca Paula Mendes.
O Brasil, aos poucos, vem adotando protocolos reconhecidos internacionalmente e exigências crescentes dos mercados consumidores também vêm pressionando por mudanças positivas. Exportar carne para países da União Europeia ou para segmentos premium já envolve auditorias ambientais e sociais detalhadas, o que tem sido um estímulo adicional à transformação do setor.
O papel da ciência e dos produtores
Os avanços recentes não seriam possíveis sem o empenho das instituições de pesquisa brasileiras, como a Embrapa, que tem liderado estudos sobre pecuária de baixa emissão de carbono. Também cresce a atuação de cooperativas, ONGs e startups do agro que desenvolvem soluções tecnológicas acessíveis para pequenos e médios produtores.
A pecuária sustentável no Brasil já não é apenas um ideal, mas uma prática em ascensão. E ao investir em ciência, manejo responsável e bem-estar animal, o país dá passos concretos para conciliar segurança alimentar, competitividade e conservação ambiental.