O mercado do boi gordo segue atravessando um momento de estabilidade aparente, mas sob uma atmosfera de atenção redobrada. Em novembro, a resistência dos preços em boa parte das praças brasileiras tem como base o forte desempenho das exportações de carne bovina, que continuam a escoar volumes históricos. Entretanto, por trás dessa sustentação, compradores vêm demonstrando crescente cautela, atentos aos desdobramentos das decisões comerciais da China — o principal destino da proteína nacional.
Segundo dados da Scot Consultoria, entre as 33 regiões monitoradas, 27 não registraram alteração nos preços do boi gordo na quinta-feira (13/11), sinalizando um comportamento mais lateralizado. Houve exceções pontuais, como os aumentos observados em Belo Horizonte (MG), regiões do sul e oeste da Bahia, além de Santa Catarina e Roraima. Já no sudeste de Rondônia, houve recuo nas cotações.
No estado de São Paulo, onde ficam duas das principais referências do setor — Araçatuba e Barretos — os valores permaneceram em R$ 320 por arroba para pagamento a prazo. Embora a oferta de animais para abate tenha ocorrido normalmente, o ritmo das negociações foi considerado moroso pelos analistas, refletindo a hesitação típica de momentos com variáveis externas em jogo.
Exportações de carne e animais vivos impulsionam o mercado
Mesmo diante desse comportamento comedido no mercado interno, o desempenho das exportações vem funcionando como principal fator de sustentação. Conforme apontado pelo Cepea, os embarques de carne bovina in natura e industrializada atingiram números expressivos em outubro. Apenas nos dez primeiros meses de 2025, o volume enviado ao exterior já corresponde a 96% do total exportado ao longo de 2024 — o que projeta um novo recorde anual em volume e receita.
A movimentação não se limita apenas à carne. O Brasil também vem intensificando o embarque de animais vivos, totalizando 842 mil cabeças até outubro — um aumento de 12,4% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Essa demanda consistente tem sido decisiva para manter o equilíbrio no mercado doméstico, ao evitar excesso de oferta nas unidades frigoríficas do país.
Oferta moderada e desempenho histórico no abate fortalecem o cenário
Do lado da oferta, a chegada do fim de ano, período que tradicionalmente apresenta um ritmo mais ajustado de fornecimento de animais, tem contribuído para evitar pressões baixistas. Segundo dados do IBGE, o terceiro trimestre de 2025 foi marcado por uma elevação de 7% no número de bovinos abatidos em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando 11,232 milhões de cabeças — o maior volume já registrado em um terceiro trimestre da série histórica.
Todos os meses desse período bateram recordes mensais, com destaque para setembro, que também foi o mês de maior produção de carne do ano: quase 1 milhão de toneladas (997.280 toneladas). Desse total, 347.683 toneladas foram destinadas ao mercado externo, representando 35% da produção nacional no mês.
Outro ponto observado foi a recuperação do peso médio dos animais, que vinha em queda desde janeiro. Após atingir o menor patamar em abril — com média de 249,80 quilos por cabeça (16,65 arrobas) —, houve uma retomada gradual, chegando a 265,91 quilos (17,73 arrobas) em setembro.
Cautela nas compras reflete o cenário externo
Embora a conjuntura aponte fundamentos positivos, o setor permanece em compasso de espera em relação ao comportamento da China, responsável por quase metade das exportações brasileiras de carne bovina. Qualquer sinal de recuo ou restrição por parte do país asiático pode impactar diretamente os volumes embarcados e, consequentemente, a dinâmica dos preços internos.
Enquanto isso, frigoríficos seguem adotando uma postura conservadora nas aquisições, dosando os volumes comprados para evitar formação de estoques elevados. A estratégia visa proteger as margens em um ambiente de custos variáveis e oscilações cambiais constantes.



