A avicultura nacional tem muitos motivos para ser celebrada neste 28 de agosto. Líder global nas exportações de carne de frango, o Brasil transformou um setor antes modesto em uma potência consolidada, que abastece mais de 150 mercados internacionais. Entretanto, por trás dos números impressionantes e da competitividade do agronegócio, o sucesso da cadeia produtiva avícola depende de um componente menos visível, mas absolutamente essencial: a inspeção sanitária pública.
Neste Dia da Avicultura, o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) chama atenção para dois riscos que podem comprometer o futuro do setor. O primeiro é o surgimento de novos focos de influenza aviária em granjas comerciais, uma ameaça real após o caso registrado em maio deste ano. O segundo é ainda mais estrutural: a proposta de privatizar a fiscalização ante mortem e post mortem realizada atualmente por auditores fiscais federais em frigoríficos brasileiros.
Gripe aviária testou a solidez da vigilância brasileira
Mesmo com o Brasil sendo, até pouco tempo, um dos últimos grandes exportadores livres de influenza aviária de alta patogenicidade, o registro de um foco em produção comercial, embora isolado, causou efeitos imediatos. Mercados importantes suspenderam temporariamente as importações, e as exportações recuaram em sequência: 12,9% em maio, 21,2% em junho e 13,8% em julho.
Apesar do impacto, o sindicato avalia que os danos poderiam ter sido muito mais severos não fosse a atuação rápida e técnica dos auditores agropecuários. De acordo com o Anffa Sindical, o sistema de vigilância e biosseguridade mostrou-se eficaz em conter a disseminação e preservar a imagem do país como fornecedor confiável.
A entidade destaca que o Brasil foi capaz de retardar por anos a entrada do vírus em granjas comerciais, justamente pela estrutura sólida de fiscalização pública, com profissionais concursados, independentes e qualificados tecnicamente. Essa confiança construída ao longo de décadas é, segundo o sindicato, um dos pilares da reputação internacional da avicultura brasileira.
Fiscalização pública ameaçada por proposta de privatização
O alerta mais contundente feito pela Anffa neste Dia da Avicultura, porém, está relacionado à proposta de transferência das inspeções sanitárias para o setor privado. A ideia, em discussão no Congresso e em diferentes instâncias do setor produtivo, prevê que empresas terceirizadas assumam o papel dos fiscais públicos em etapas decisivas do controle sanitário, como a inspeção de animais antes e depois do abate.
Para o Anffa Sindical, essa mudança representa um risco real à saúde pública e à credibilidade do sistema brasileiro de segurança alimentar. A nota divulgada pela entidade reforça que a inspeção oficial é uma atividade típica de Estado e que sua imparcialidade é assegurada justamente pelo vínculo público dos auditores. Transformar essa função em um serviço contratado, segundo o sindicato, pode abrir brechas para conflitos de interesse e enfraquecer os critérios técnicos hoje empregados.
“O prestígio que o Brasil conquistou como líder mundial em avicultura decorre justamente da seriedade e da independência da inspeção oficial”, afirma a nota do sindicato. “Privatizar essa função seria um retrocesso inaceitável, com implicações econômicas e sanitárias graves.”
Produção e fiscalização caminham lado a lado
O Brasil já exportou quase 100 milhões de toneladas de carne de frango desde o primeiro embarque, em 1975. Essa trajetória de crescimento expressivo, no entanto, não se explica apenas pelo volume produzido ou pela competitividade de custo. Para o Anffa Sindical, o elemento-chave da confiança internacional na proteína nacional é a robustez da fiscalização sanitária.
Ao insistir na manutenção do caráter público da inspeção, o sindicato defende não apenas os consumidores, mas o próprio setor produtivo. Afinal, qualquer brecha no controle oficial pode representar não só um risco à saúde da população, mas também a perda de mercados que exigem rigorosos padrões sanitários.