O confinamento é uma ferramenta poderosa para o pecuarista moderno, especialmente quando a intenção é acelerar o ganho de peso e garantir maior eficiência na produção de carne. Mas o que muitos ainda se perguntam é: qual o momento certo — ou melhor, qual o peso ideal — para levar bois e novilhas ao cocho? A resposta, segundo especialistas, está menos em fórmulas fixas e mais em decisões estratégicas alinhadas ao objetivo final de abate, à estrutura dos animais e à capacidade nutricional da propriedade.
“Escolher o peso ideal de entrada no confinamento pode parecer um detalhe técnico, mas é um dos principais fatores que influenciam o desempenho zootécnico e a rentabilidade por arroba”, explica o médico-veterinário Lucas Figueiredo, especialista em sistemas intensivos de produção bovina. Segundo ele, quanto mais próximo o animal estiver do ponto de virada entre crescimento esquelético e engorda propriamente dita, mais eficiente será o aproveitamento da dieta concentrada.
Bois: entre a precocidade e o ganho compensatório
No caso dos machos, o peso ideal de entrada gira em torno de 420 kg a 450 kg, especialmente para aqueles destinados ao abate com mais de 600 kg. Animais abaixo dessa faixa ainda estão em fase de crescimento mais acentuado e, embora possam ser confinados, exigirão mais tempo de cocho, maior investimento em ração e retorno mais demorado.
“Entrar no cocho já com peso intermediário significa que o animal está pronto para converter nutrientes em carne com mais eficiência”, ressalta Lucas. Essa escolha permite reduzir o ciclo de engorda para cerca de 90 dias, o que, somado ao bom manejo e planejamento nutricional, resulta em um custo por arroba mais competitivo.

Por outro lado, bois muito leves, com menos de 380 kg, até podem ser aproveitados em confinamento, mas geralmente como parte de uma estratégia de recria intensiva. Isso exige mais tempo, mais insumos e uma estrutura capaz de manter o ritmo sem comprometer o ganho médio diário.
Novilhas e vacas: potencial de desempenho e limites fisiológicos
No caso das fêmeas, o planejamento deve ser ainda mais cauteloso. Isso porque novilhas e vacas apresentam estrutura corporal mais leve e menor velocidade de ganho que os machos. Segundo a zootecnista Renata Pires, consultora em nutrição e engorda de fêmeas, o ideal é que novilhas sejam confinadas a partir dos 270 kg, com bom escore corporal e rusticidade. “Entre 270 e 300 kg está o ponto de maior retorno, pois permite um desempenho satisfatório sem prolongar o tempo de cocho”, pontua.
Já para as vacas, o cenário é um pouco diferente. O recomendado é que entrem com mais de 400 kg, podendo atingir até 450 kg, dependendo da raça e da condição corporal. Vacas com esse peso já têm maturidade fisiológica e podem responder rapidamente à dieta energética, com ciclos de engorda mais curtos e previsíveis. Esse fator é fundamental, principalmente em épocas de terminação planejada para atender janelas de mercado específicas.
Maximizando resultados com estratégia e nutrição direcionada
É essencial lembrar que peso de entrada não é uma regra absoluta, mas sim uma referência que deve ser analisada junto ao perfil do rebanho, ao sistema produtivo e à meta de acabamento. Quando bem planejado, o confinamento permite que o pecuarista reduza custos operacionais, aumente a conversão alimentar e entregue animais mais pesados e padronizados ao frigorífico.
Aliás, como reforça Renata, “o que define o sucesso do confinamento não é apenas o ganho diário, mas quanto se ganha em cada dia de cocho”. Por isso, tomar decisões estratégicas sobre o peso ideal de entrada é um dos primeiros passos para garantir um confinamento realmente lucrativo — e sustentável.
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