Resumo
A pastagem rotacionada aumenta a produtividade da pecuária ao dividir o pasto em piquetes e permitir o descanso do solo entre os ciclos de pastejo.
O manejo melhora o valor nutritivo do capim, favorece o rebroto e reduz a necessidade de insumos e investimentos.
Estudos da Embrapa mostram ganhos de até 40% na produtividade por hectare com o sistema rotacionado.
O método garante bem-estar animal, reduz competição e facilita o controle de adubação e roçadas.
Adaptável a diferentes regiões, o sistema promove produção sustentável, rentável e alinhada à pecuária moderna.
A busca por soluções que aumentem a produtividade na pecuária, sem exigir grandes investimentos, tem levado muitos produtores a redescobrir uma técnica eficiente, sustentável e de fácil implementação: a pastagem rotacionada. Embora não seja exatamente uma novidade, o sistema tem ganhado cada vez mais destaque por seu potencial de transformar áreas comuns em espaços de alto rendimento — tanto na produção de carne quanto de leite.
Aliás, o que chama a atenção nesse modelo é sua simplicidade. A técnica consiste basicamente em dividir a área de pastagem em piquetes e revezar o acesso dos animais, garantindo um tempo adequado de descanso para a recuperação do capim. Parece básico, mas o impacto no desempenho do rebanho e na preservação do solo é profundo.
Recuperação do solo e aumento da produção com baixo custo
Para o engenheiro agrônomo e consultor em produção animal Rafael Fonseca, o segredo está justamente no manejo. “A pastagem rotacionada respeita o ciclo natural da planta forrageira. Isso aumenta a taxa de rebrota, melhora o valor nutritivo do pasto e, consequentemente, eleva o desempenho animal sem que seja necessário gastar com insumos adicionais”, explica.
Além disso, o sistema favorece a infiltração de água no solo, reduz a compactação e colabora com a ciclagem de nutrientes, especialmente em áreas onde a cobertura vegetal vinha sendo degradada. Dessa forma, o pecuarista consegue recuperar áreas improdutivas, estabilizar a lotação e até reduzir o tempo de abate dos bovinos — resultado direto do melhor aproveitamento da forragem disponível.
Segundo estudos conduzidos pela Embrapa Gado de Corte, propriedades que adotaram o sistema de pastejo rotacionado chegaram a registrar um aumento de até 40% na produtividade por hectare, especialmente quando associaram o método a práticas simples de adubação orgânica e controle da altura do pasto. Ou seja, resultados expressivos, sem depender de tecnologias caras ou mudanças drásticas na infraestrutura da fazenda.
Bem-estar animal e eficiência no manejo diário
Outro benefício pouco citado, mas igualmente relevante, é o impacto positivo sobre o comportamento dos animais. De acordo com a zootecnista e especialista em sistemas intensivos de pasto Camila Beraldo, o modelo rotacionado promove uma alimentação mais uniforme e reduz a competição entre os indivíduos do rebanho. “Os animais entram nos piquetes em momentos em que o pasto está no ponto ideal, o que melhora a conversão alimentar e reduz o estresse”, afirma.
Além disso, o manejo diário se torna mais organizado. Como o controle de entrada e saída dos animais em cada piquete é sistemático, o pecuarista consegue planejar melhor as adubações, realizar roçadas preventivas e até evitar o superpastejo — que é uma das principais causas de degradação de pastagens no Brasil.
Produção sustentável e adaptável a diferentes realidades
Vale destacar que o sistema de pastejo rotacionado se adapta bem tanto à pecuária de corte quanto à de leite, em pequenas, médias ou grandes propriedades. E, apesar de ser mais difundido no Sul e Sudeste, já há diversos projetos bem-sucedidos em regiões do Cerrado, onde o manejo intensivo do pasto tem sido fundamental para aumentar a resiliência da atividade diante da irregularidade climática.
Camila destaca que o segredo do sucesso está na observação do pasto e não apenas no calendário. “Mais importante do que o número de dias de descanso é a altura do capim na hora da entrada e da saída dos animais. Esse cuidado faz toda a diferença na recuperação e na longevidade da pastagem”, pontua a especialista.
Em um cenário no qual o custo da suplementação alimentar continua elevado e a pressão por práticas mais sustentáveis aumenta, o sistema rotacionado se mostra não apenas eficiente, mas também alinhado às exigências de um novo perfil de consumidor e de um mercado mais consciente.
Por isso, investir em manejo de pasto estratégico deixou de ser apenas uma alternativa técnica: tornou-se uma necessidade para quem deseja manter a rentabilidade e a competitividade no campo — produzindo mais, com menos.
ℹ️ Nota técnica:
As informações apresentadas neste artigo têm caráter educativo e informativo. O manejo de pastagens deve considerar as condições específicas de solo, clima e disponibilidade de recursos de cada propriedade. Para orientações personalizadas, consulte um engenheiro agrônomo ou zootecnista.