O cenário da piscicultura brasileira vive um momento promissor. De acordo com os dados mais recentes, as exportações de peixes cultivados cresceram impressionantes 112%, puxadas por espécies como tilápia e tambaqui. Diante desse crescimento, muitos produtores — iniciantes ou experientes — se veem diante de uma decisão estratégica: investir em tanques-rede ou apostar nos tradicionais tanques escavados? Embora ambos os sistemas apresentem vantagens, a escolha deve considerar desde a topografia da propriedade até o planejamento financeiro de médio e longo prazo.
Segundo o engenheiro de pesca Marcos Almeida, especialista em sistemas produtivos sustentáveis, a definição do melhor modelo não pode ser feita com base apenas no custo inicial. “Um sistema pode parecer mais barato de instalar, mas trazer custos operacionais mais altos no dia a dia. É preciso olhar para o ciclo completo, inclusive com foco na gestão da água, no tipo de ração utilizada e na mão de obra disponível”, orienta.
Tanque escavado: tradição, estabilidade e independência hídrica
Os tanques escavados são, historicamente, os mais usados em pequenas e médias propriedades. Escavados diretamente no solo, geralmente com auxílio de máquinas, eles funcionam bem em áreas com lençol freático alto e solo argiloso, que ajuda na retenção da água. Além disso, são sistemas que conferem maior autonomia ao produtor, já que permitem o controle direto da qualidade da água, do manejo sanitário e até da coleta dos peixes na despesca.

Outra vantagem é a diversidade de espécies que podem ser cultivadas nesse modelo, como tilápia, tambaqui, carpa, pintado e até peixes ornamentais. Contudo, esse sistema exige área disponível e investimento inicial em infraestrutura, como bombeamento, drenagem e preparação do terreno. “É um modelo excelente para quem tem propriedade fixa e quer construir uma produção mais autônoma e estruturada, com possibilidades de expansão dentro da própria área”, comenta Lilian Costa, zootecnista e consultora em aquicultura tropical.
Entretanto, o tempo de construção e os custos com escavação e impermeabilização (quando necessário) podem se tornar entraves para quem deseja retorno rápido. Ainda assim, em regiões com facilidade de acesso à água e com bom planejamento técnico, o tanque escavado continua sendo uma escolha sólida.
Tanque-rede: velocidade, escala e acesso a grandes volumes de água
Já os tanques-rede são estruturas suspensas que ficam submersas em corpos d’água maiores, como represas, açudes e lagos. Bastante usados em regiões com presença de grandes reservatórios — como o oeste do Paraná e o norte de Minas Gerais —, esses sistemas oferecem rápida implementação, alta densidade de estocagem e facilidade no manejo alimentar e sanitário.

Um dos principais atrativos do tanque-rede é a possibilidade de produzir em larga escala com baixo investimento inicial. “O produtor pode começar com uma estrutura pequena e ir ampliando de forma modular, o que é vantajoso em termos de gestão do risco e de escalabilidade do negócio”, explica Marcos Almeida. Além disso, a renovação constante da água contribui para o crescimento mais acelerado dos peixes, o que favorece a produtividade por ciclo.
Por outro lado, há desafios que precisam ser considerados. Como o produtor depende de um corpo hídrico público ou de concessão, é necessário cumprir regras ambientais rigorosas. Há também a exposição maior a fatores climáticos e riscos sanitários, como a contaminação cruzada com outras criações ou fauna nativa. Além disso, em períodos de cheia ou seca, pode haver alterações nos parâmetros da água que impactam diretamente a saúde dos peixes.
Qual modelo vale mais a pena para o produtor?
A decisão final depende, essencialmente, da estrutura disponível, dos recursos da propriedade e do perfil de produção que se deseja alcançar. O tanque escavado oferece mais autonomia e pode funcionar como base de uma produção diversificada, mas exige planejamento e espaço. Já o tanque-rede é a opção de quem busca crescimento rápido e atua próximo a grandes volumes de água, como usinas ou represas.
“Antes de definir o modelo, o ideal é contar com uma consultoria técnica para analisar o terreno, a disponibilidade hídrica, a legislação ambiental e o objetivo do produtor. Cada propriedade tem seu potencial e seu limite”, reforça Lilian Costa.