Resumo
Pesquisadores da UFSCar desenvolveram um método que usa drones e inteligência artificial para identificar o pinheiro invasor Pinus elliottii em áreas de transição entre Cerrado e Mata Atlântica.
O sistema permite mapear rapidamente a presença da espécie exótica, que altera o solo, favorece incêndios e ameaça a biodiversidade brasileira.
A tecnologia foi aplicada na Estação Ecológica de Itapeva (SP), onde identificou que 25% da área está ocupada pelo pinheiro invasor.
A solução é escalonável, de baixo custo e pode apoiar políticas públicas ambientais, além de contribuir com metas globais de restauração.
O estudo também busca detectar outras espécies invasoras e identificar plantas nativas valiosas, como pau-brasil, araucária e açaí.
As transformações silenciosas que ocorrem nos ecossistemas nem sempre são perceptíveis a olho nu, mas seus impactos podem ser profundos e duradouros. É o caso das espécies invasoras, que se instalam fora de sua área original, competem com a vegetação nativa e desestabilizam os ciclos ecológicos. Entre elas, o Pinus elliottii, originário do sul dos Estados Unidos, vem sendo motivo de preocupação em regiões brasileiras de alta sensibilidade ambiental.
Foi diante dessa realidade que um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no campus Lagoa do Sino, desenvolveu um sistema capaz de detectar a presença desse pinheiro exótico em áreas naturais, utilizando drones e inteligência artificial. O trabalho, que acaba de ser publicado no Journal for Nature Conservation, analisou uma área de 92 hectares em Buri (SP), na zona de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica — duas das formações vegetais mais ameaçadas do país.
A proposta alia sensoriamento remoto de alta resolução a algoritmos de aprendizado profundo, permitindo identificar a espécie invasora com precisão a partir das imagens captadas por drones. A metodologia mostrou-se especialmente eficaz no reconhecimento do Pinus elliottii, que se destaca pela capacidade de alterar o solo, favorecer a propagação de incêndios e reduzir drasticamente a biodiversidade local.
Além de contribuir para a produção de madeira e celulose, essa árvore exótica, quando não manejada adequadamente, pode se espalhar por áreas naturais e criar verdadeiros desertos ecológicos, onde a vegetação nativa encontra dificuldades para se regenerar. Por isso, métodos como o desenvolvido pela UFSCar se tornam essenciais para prevenir e frear o avanço silencioso dessas espécies fora de controle.
O sucesso do projeto despertou o interesse de instituições ambientais e empresas do setor florestal. A tecnologia já começou a ser aplicada na Estação Ecológica de Itapeva (SP), uma unidade de conservação da Mata Atlântica afetada pela expansão do Pinus elliottii. O diagnóstico feito pela equipe apontou uma cobertura de aproximadamente 25% da área invadida por essa única espécie — um número preocupante para a saúde ecológica da região.
A metodologia tem sido usada em parceria com organizações como a Fundação Florestal do Estado de São Paulo e empresas como a Bracell, além de contar com o apoio técnico da Bioflore e do Centro de Pesquisa e Extensão em Geotecnologias (CePE-Geo). A solução também integra iniciativas maiores, como a competição internacional XPrize Rainforest e a Jornada pelo Clima, voltadas à proteção de biomas estratégicos.
Outro ponto relevante é o caráter escalável da ferramenta. Por ser uma solução de baixo custo, rápida execução e replicável em diferentes ecossistemas, ela pode se transformar em um importante aliado para políticas públicas de conservação e atender a metas globais, como a Década da Restauração proposta pela ONU e as pautas em debate na COP30, marcada para Belém (PA).
Enquanto avança no monitoramento do Pinus elliottii, o grupo da UFSCar também trabalha no desenvolvimento de algoritmos para outras espécies exóticas de alto impacto ecológico. Estão na mira nomes como braquiária, leucena e acácia, todas amplamente disseminadas em áreas abertas. Ao mesmo tempo, o sistema pode ser adaptado para localizar espécies nativas de alto valor ecológico, como a castanheira, o pau-brasil, a araucária e o açaí — o que amplia ainda mais sua aplicação para ações de reflorestamento e gestão ambiental.