Agro
Conab escoa 64,7 mil t de trigo e reforça apoio ao arroz em novos leilões
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Por
Claudio P. Filla
A manhã desta quarta-feira (24) trouxe um recado direto para quem acompanha o ritmo do mercado de grãos no Sul do país: quando o preço aperta e o produtor precisa de saída, o instrumento certo não é “milagre”, é mecanismo. Em novos leilões de incentivo ao escoamento, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) negociou apoio para retirar 64,7 mil toneladas de trigo e cerca de 16,88 mil toneladas de arroz, combinando modalidades que premiam a comercialização e garantem que o produto chegue a destinos definidos, reduzindo a pressão local sobre preços e armazenagem, sem desorganizar a oferta nacional.
O resultado mais simbólico do dia foi o trigo: o volume negociado correspondeu a 100% do total ofertado pela Companhia, um sinal de que a demanda pelo incentivo encontrou aderência imediata entre os participantes e que, naquele momento, o mercado estava disposto a cumprir as regras do jogo para tirar o cereal do ponto de estrangulamento.
O que os leilões medem, na prática: velocidade de saída e sustentação de renda
Os leilões públicos da Conab dentro da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) funcionam como uma alavanca de organização de fluxo. Em vez de atuar “contra” o mercado, a lógica é atuar “com” o mercado, mas corrigindo desequilíbrios que se formam quando há concentração regional de oferta, custos logísticos altos ou descompasso entre a necessidade de venda do produtor e a capacidade de compra imediata do canal.
É nesse ponto que entram os prêmios. O Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural) se estrutura para fazer o incentivo chegar ao produtor, estimulando a comercialização quando os preços precisam de sustentação. Já o PEP (Prêmio para Escoamento de Produto) opera como estímulo para que compradores, indústrias e comerciantes façam o produto circular até os destinos previstos, ajudando a “destravar” a retirada do grão. Assim, o foco deixa de ser apenas o valor na porteira e passa a incluir o caminho completo: quem compra, para onde leva, em qual prazo, e com qual comprovação.
Trigo: 100% da oferta negociada e volume total acima do previsto
No trigo, o apoio ao escoamento das 64,7 mil toneladas negociadas nesta quarta (24) ocorreu por meio de Pepro, e o dado chama atenção porque significa que tudo o que a estatal colocou na mesa encontrou arremate. Além disso, a Conab já havia realizado outra rodada na segunda-feira (22), quando 170,68 mil toneladas do cereal foram negociadas em operações de suporte ao escoamento.
Somados, os dois momentos elevam o apoio total assegurado para 235,38 mil toneladas de trigo. E há um detalhe que dá a dimensão da dinâmica do leilão: o volume efetivamente atendido ficou 36,85 mil toneladas acima do previsto inicialmente, movimento atribuído ao deságio nas operações, que abre espaço para ampliar a quantidade amparada sem ultrapassar o limite de recursos desenhado para a política. Em outras palavras, o incentivo “rendeu mais” do que o planejamento original permitia, e isso virou volume extra atendido.
Arroz: prêmio majoritariamente para o produtor e avanço no total já apoiado
No arroz, a fotografia do leilão desta quarta (24) mostra uma distribuição clara. Do total negociado para o grão, 16,75 mil toneladas foram apoiadas por meio de Pepro, direcionando o prêmio diretamente aos agricultores, enquanto 125 toneladas foram arrematadas via PEP por indústrias e comerciantes.
Esse recorte é importante porque sugere o papel que a Conab buscou enfatizar na rodada: priorizar o estímulo ao produtor num cenário em que o escoamento precisa acontecer, mas a renda rural também precisa de um piso funcional. Com o volume desta manhã, o apoio total ao escoamento de arroz chega a 213,15 mil toneladas, já que a Companhia havia garantido anteriormente incentivo à remoção de 196,28 mil toneladas, às quais se somam as 16,88 mil toneladas negociadas agora.
O “pós-leilão” é onde a política se concretiza: análise, comprovação e pagamento
Depois do martelo, começa a etapa menos visível — e mais decisiva — para que o incentivo se transforme em resultado real. A Conab informou que vai analisar a regularidade cadastral dos participantes e, em seguida, publicará os nomes dos arrematantes. Na sequência, serão emitidos e assinados os documentos confirmatórios da operação pela Companhia e pelas Bolsas de Mercadorias que representam os vencedores.
Os prazos também deixam claro que o incentivo não é automático: ele depende de comprovação. Os participantes precisam comprovar a comercialização do arroz até 29 de janeiro de 2026 e comprovar o escoamento do grão até 29 de maio de 2026. O pagamento do prêmio, por sua vez, ocorre após conferência de toda a documentação ligada à comercialização e ao escoamento. Assim, o mecanismo garante rastreabilidade e condiciona o recurso ao cumprimento efetivo do que foi contratado.
Recursos e amparo legal: por que isso importa para o produtor e para o abastecimento
A ação foi autorizada pelas Portarias Interministeriais nº 31/2025 e nº 32/2025, assinadas pelos Ministérios da Fazenda (MF), do Planejamento e Orçamento (MPO), do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Esses documentos definem um volume total de recursos de até R$ 167 milhões para as operações, o que amarra o incentivo a um teto orçamentário e dá previsibilidade institucional ao programa.
No desenho da Conab, leilões dentro da PGPM não são apenas uma resposta pontual a preços: são uma ferramenta para diminuir oscilações na renda, assegurar remuneração mínima e funcionar como referência para a oferta, ora incentivando, ora desestimulando a produção, enquanto ajuda a manter a regularidade do abastecimento nacional. Quando aplicados ao escoamento, como nesta quarta, o objetivo fica ainda mais concreto: aliviar gargalos regionais e permitir que o produto circule sem que o produtor precise aceitar, necessariamente, um preço “de urgência” por falta de saída logística ou excesso local de oferta.
Clique aqui para acessar os resultados dos leilões.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Agronamidia. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em agronomia, agronegócio, veterinária, desenvolvimento rural, jardinagem e paisagismo, me dedico a garantir a precisão e a relevância de todas as publicações.
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