O que antes era sinônimo de baixa produtividade e pouca rentabilidade, hoje representa um dos cultivos mais promissores da horticultura familiar em Santa Catarina. A mandioquinha-salsa, também conhecida como batata-baroa, passou por uma verdadeira transformação nos últimos anos, graças ao lançamento de novas variedades adaptadas ao clima do Sul do Brasil. O avanço tecnológico permitiu não apenas dobrar a produtividade das lavouras, mas também reduzir drasticamente os custos de produção — tornando a cultura mais atrativa, inclusive para pequenos agricultores.
Até pouco tempo, a única variedade disponível era o cultivar Senador Amaral, pouco adaptado às condições climáticas e de solo da região. O resultado era uma produção limitada e suscetível a doenças, o que desestimulava os agricultores. A virada começou com as pesquisas da Epagri, que testou diferentes materiais genéticos na cidade de Angelina, na Grande Florianópolis. Foi dali que surgiram, em 2022, as cultivares SCS380 Inca e SCS381 Coqueiral — mais resistentes, produtivas e bem ajustadas ao ambiente catarinense.
Produtividade que surpreende e custo que cabe no bolso
O desempenho das novas cultivares impressiona: enquanto o antigo Senador Amaral mal atingia 12 toneladas por hectare, a variedade Inca já supera as 30 toneladas, e a Coqueiral alcança até 40. A diferença no campo é sentida diretamente no bolso do produtor. Em 2023, essas variedades já estavam presentes em 98% da área plantada em Santa Catarina e ocupavam 90% das lavouras no Paraná, totalizando cerca de 2 mil hectares. Estima-se que mais de 2.400 famílias em todo o país já tenham aderido à nova tecnologia.

Em Angelina, o agricultor Bruno Dias foi um dos que apostaram na mudança. Depois de desistir do cultivo por causa dos baixos rendimentos, voltou à produção com a variedade Coqueiral, desta vez em sistema orgânico. O resultado foi surpreendente: 39 toneladas colhidas por hectare, com apenas 1% de descarte. A renda líquida superou R$ 42 mil por hectare, com custos extremamente baixos — representando apenas 8% da receita total.
Sustentabilidade no centro do novo modelo de produção
A guinada produtiva da mandioquinha-salsa em Santa Catarina também tem relação direta com a adoção do Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH), uma iniciativa da própria Epagri. O sistema trouxe ganhos expressivos para o solo e para o bolso: redução de 70% no uso de fertilizantes, 65% a menos de agrotóxicos e até 90% de diminuição na erosão. O controle da umidade e o uso de cobertura vegetal permanente, aliados à redução de insumos, eliminaram a necessidade de irrigação em diversas propriedades. Hoje, o SPDH cobre 30% das lavouras no estado — e a tendência é de expansão.
Com uma base técnica consolidada e resultados práticos cada vez mais visíveis, a mandioquinha-salsa já movimenta R$ 25 milhões ao ano apenas no município de Angelina. O sucesso da cultura estimula sua expansão para outras regiões catarinenses, como o Vale do Itajaí e o Planalto Norte. Ao mesmo tempo, fortalece a imagem de Santa Catarina como um dos grandes polos nacionais de inovação na horticultura — aliando produtividade, sustentabilidade e renda para o campo.