A valorização do café no mercado físico brasileiro ganhou ritmo acelerado em agosto, em um movimento que já reflete o temor de uma oferta mais restrita nos próximos ciclos. Até o dia 22 do mês, a saca de 60 quilos do grão arábica era negociada, em média, por R$ 2.228,39, o que representa uma valorização mensal de 22,99%, segundo dados do Cepea. O robusta (ou conilon) seguiu a mesma trilha: subiu 41,26% no período, com cotações médias de R$ 1.452,77.
Essa reação do mercado não é pontual, nem isolada. Trata-se de um reflexo direto das perdas acumuladas na safra atual e da expectativa cada vez menor de um desempenho robusto para 2025/26. As condições climáticas adversas – com destaque para geadas intensas, frentes frias sucessivas e episódios de granizo – atingiram algumas das principais regiões produtoras do Brasil, como o sul de Minas Gerais, o norte do Paraná e partes do interior de São Paulo.
Clima derruba produtividade e desafia as projeções
A leitura mais recente dos analistas indica que a quebra da atual colheita, especialmente no arábica, foi maior do que o previsto inicialmente. Em diversas lavouras, observou-se menor volume de frutos e baixa produtividade por planta. A expectativa de que 2026 poderia trazer uma safra recorde de até 80 milhões de sacas, como projetado por agentes internacionais, se tornou cada vez mais improvável.
A instabilidade climática também levanta dúvidas sobre o desenvolvimento das floradas nos próximos meses. O mercado monitora atentamente o comportamento das chuvas na primavera, bem como a possibilidade de veranicos severos durante o verão. Cada uma dessas variáveis é capaz de interferir diretamente na capacidade de frutificação das lavouras e, por consequência, na formação da próxima safra.
Projeções revisadas e impacto nas cotações
Diante das incertezas, algumas estimativas já foram revistas. Para o café arábica, a consultoria StoneX reduziu a projeção de produção em 5,7% em relação ao último levantamento, fixando o volume esperado em 36,5 milhões de sacas – uma queda de 18,4% na comparação com a safra anterior. A justificativa recai sobre os danos climáticos observados em áreas-chave, como o Cerrado Mineiro, Espírito Santo, São Paulo e Sul de Minas.
Por outro lado, o robusta teve sua projeção mantida em 25,8 milhões de sacas, graças à resiliência da variedade em regiões mais quentes e menos suscetíveis a geadas. Ainda assim, o crescimento estimado de 21,9% frente ao ciclo anterior não compensa a retração no arábica, especialmente em um cenário de estoques globais em níveis historicamente baixos.
Fatores internacionais agravam a pressão de preços
A conjuntura global também sustenta a escalada nas cotações. Com estoques apertados nos principais países consumidores e produtores, os contratos futuros registraram altas expressivas nas últimas semanas. Até 22 de agosto, os contratos com vencimento para dezembro do café arábica na bolsa de Nova Iorque acumularam alta de 36,3%, enquanto os de robusta, negociados em Londres, avançaram 42,7%.
Além disso, tarifas aplicadas pelos Estados Unidos sobre importações agrícolas têm adicionado pressão sobre o mercado, elevando os custos para os comerciantes locais e dificultando a recomposição dos estoques em um momento de inflação persistente.