Quando as temperaturas começam a subir e a luz do dia se prolonga, o jardim desperta em outro ritmo. Brotos se alongam, botões se abrem e, de repente, o verde ganha pinceladas intensas de amarelo, vermelho, rosa e laranja. A primavera marca esse momento de explosão de vida, mas, com escolhas certeiras, é possível prolongar esse espetáculo até o auge do verão, mantendo vasos, canteiros e jardineiras em permanente clima de festa.
Para isso, algumas espécies se destacam pela floração contínua, pela resistência ao calor e pela capacidade de se adaptar a diferentes espaços, do grande jardim ao pequeno apartamento. Portulaca, gazânia, gerânio pendente, sálvia ornamental, ixora e lírio amarelo formam um conjunto interessante de plantas que atravessam as estações com vigor, desde que tenham luz, solo adequado e regas bem conduzidas.
Segundo a paisagista Mariana Andrade, especializada em jardins residenciais, o segredo está em combinar espécies de portes, texturas e cores diferentes, mas que compartilham necessidades semelhantes. “Quando o jardineiro escolhe plantas com exigências parecidas de sol e água, a manutenção fica muito mais simples e o jardim responde com uma floração longa e abundante”, explica.
Além disso, como reforça a jardineira Mel Maria, da floricultura Mel Garden, a escolha de espécies rústicas facilita a vida de quem está começando a montar o jardim. “São plantas que toleram pequenos erros de manejo, recuperam-se bem e recompensam o cuidado com flores praticamente o tempo todo, do início da primavera até o fim do verão”, afirma.
Portulaca
Entre as plantas que mais simbolizam a alegria da primavera, a portulaca (Portulaca grandiflora), também chamada de onze-horas, ocupa lugar de destaque. Suas flores simples ou dobradas se abrem em uma paleta intensa de rosas, laranjas, amarelos, brancos e mesclas, formando verdadeiros tapetes floridos quando cultivadas em maciços.

Apesar do visual delicado, ela é extremamente rústica. Suas folhas suculentas armazenam água, o que a torna perfeita para canteiros quentes, bordaduras sob sol pleno e jardineiras expostas na sacada. Aliás, essa característica explica por que a portulaca floresce com tanta força justamente quando o calor aperta.
Quanto aos cuidados, o ideal é oferecer muitas horas de sol direto, solo bem drenado e regas moderadas, sempre evitando o encharcamento. a jardineira Mel Maria destaca que o excesso de água é um dos poucos pontos de atenção. “A portulaca prefere um substrato leve e arenoso, que seque entre as regas. Em canteiros muito úmidos, ela não vai bem”, orienta.
Graças ao crescimento rasteiro e ao ciclo ágil, é uma ótima opção para preencher espaços rapidamente, em especial na primavera. Assim, ela segue bonita até o verão, renovando a floração continuamente e garantindo um fundo colorido para outras plantas mais altas.
Gazânia
Se a intenção é criar pontos de destaque que brilham mesmo nos dias mais quentes, a gazânia (Gazania rigens) é uma escolha certeira. Suas flores abertas, com centro marcante e pétalas bicolores, lembram pequenos sóis pousados sobre o jardim. A combinação de amarelo, laranja, branco, rosa e tons terrosos faz dela uma espécie extremamente ornamental.

A gazânia é uma planta de sol pleno, que aprecia calor e tolera períodos de seca melhor do que muitas outras espécies. Por isso, é muito indicada para canteiros em áreas frontais, jardins de pedra, taludes e bordas de caminhos, onde o solo costuma aquecer mais. Além disso, desenvolve-se bem em vasos, desde que o recipiente tenha boa drenagem.
Em relação à manutenção, a espécie pede regas regulares, porém sem exageros, e um solo leve, ligeiramente arenoso, que não retenha água por muito tempo. Mariana Andrade lembra que a retirada das flores secas faz toda a diferença na floração prolongada. “Quando o jardineiro retira os capítulos murchos, a planta direciona energia para novos botões. É um pequeno gesto que ajuda a manter a gazânia florida da primavera até o verão”, explica.
Por isso, se a ideia é ter um jardim sempre vibrante, vale combinar gazânias com portulacas e outras espécies de sol, criando faixas de cor que se renovam dia após dia.
Gerânio pendente
O gerânio (Pelargonium peltatum), especialmente em sua forma pendente, é um dos grandes aliados de quem deseja transformar varandas e sacadas em cenários românticos e floridos. Suas hastes delicadas caem em cascata e se enchem de flores em tons de vermelho, rosa, branco e lilás, criando um efeito de abundância que se estende da primavera ao verão.

Essa espécie aprecia bastante luminosidade e se beneficia de algumas horas de sol direto, principalmente no início da manhã. Entretanto, em regiões muito quentes, é interessante protegê-la do sol mais forte da tarde, evitando que as folhas queimem. Assim, vasos suspensos próximos a janelas ou jardineiras sob beirais costumam ser locais ideais.
O solo deve ser rico em matéria orgânica e bem drenado, com regas que mantenham o substrato levemente úmido, mas nunca encharcado. Mel Maria destaca ainda a importância da adubação para um gerânio sempre florido. “Adubos equilibrados, com foco em fósforo e potássio, ajudam a manter a floração contínua. Pequenas doses a cada mês são suficientes para um bom resultado”, orienta.
Além disso, a retirada de flores secas e a poda leve das pontas estimulam novas brotações e deixam a planta mais cheia. Assim, o gerânio pendente se torna uma excelente opção para quem gosta de observar o jardim de dentro de casa, apreciando as flores pelas janelas ou do conforto do sofá.
Sálvia ornamental
A sálvia ornamental (Salvia splendens) é uma daquelas plantas que parecem acender o jardim com suas espigas vermelhas intensas, que também podem surgir em tons de roxo, rosa ou branco. Além de muito decorativa, ela é uma forte aliada dos polinizadores, atraindo borboletas e beija-flores em massa durante a primavera e o verão.
De porte médio, a sálvia funciona muito bem como ponto focal em canteiros, compondo com folhagens verdes e outras flores mais baixas. Aliás, sua verticalidade traz movimento e ajuda a dar ritmo ao jardim, especialmente quando plantada em grupos, formando manchas de cor definidas.
Para que floresça com abundância, a espécie pede sol pleno ou meia-sombra muito clara, solo fértil e rico em matéria orgânica, além de regas regulares, mantendo a terra úmida, mas sem exageros. Mariana Andrade lembra que a sálvia responde bem a pequenas podas de manutenção. “Cortar as espigas que já passaram do auge estimula novas emissões florais. É assim que conseguimos mantê-la em espetáculo contínuo da primavera até o verão”, comenta.
Por isso, a sálvia ornamental é uma ótima aposta para quem busca um jardim vivo e dinâmico, onde as flores não são apenas enfeite, mas também alimento para a fauna local.
Ixora
A ixora (Ixora coccinea) é um arbusto que traduz muito bem o clima tropical, com suas inflorescências em forma de pequenos buquês em vermelho, laranja, amarelo ou rosa. As flores se agrupam em bolas compactas que chamam atenção de longe, contrastando com o verde brilhante e denso da folhagem.

De porte médio, a ixora funciona como cerca-viva baixa, bordadura ou ponto de destaque em canteiros próximos à entrada da casa. Além disso, adapta-se bem a vasos grandes, desde que seja feita poda de formação ao longo do tempo, para manter o arbusto mais compacto e harmônico.
Em relação aos cuidados, a espécie prefere sol pleno e clima quente, com solo bem drenado, enriquecido com matéria orgânica. As regas devem ser constantes, principalmente nos períodos mais secos, mantendo a terra úmida, porém não encharcada.
A jardineira Mel destaca que a ixora responde muito bem à adubação regular. “Misturas ricas em fósforo e potássio estimulam a formação dos buquês florais. Quando bem nutrida, a planta praticamente não faz intervalo entre uma floração e outra ao longo da primavera e do verão”, observa.
Assim, a ixora é perfeita para quem deseja um jardim sempre arrumado e colorido, com flores que se renovam e mantêm o visual vibrante por meses.
Lírio amarelo (Hemerocallis)
O lírio amarelo (Hemerocallis spp.), muitas vezes chamado de lírio-diurno, é conhecido pelas flores que duram apenas um dia, mas que se sucedem continuamente ao longo da estação, criando a sensação de um espetáculo que nunca termina. Suas hastes florais eretas surgem acima da folhagem em forma de touceira, trazendo leveza e elegância ao jardim.

Apesar da aparência refinada, trata-se de uma planta bastante resistente, que tolera calor, sol forte e até períodos mais secos quando bem estabelecida. Aliás, essa combinação entre rusticidade e sofisticação explica por que o hemerocallis é tão usado em projetos paisagísticos, especialmente em bordas de canteiros, na frente de muros ou acompanhando caminhos.
O ideal é cultivá-lo em sol pleno ou meia-sombra luminosa, em solos férteis, profundos e bem drenados. As regas devem ser regulares, principalmente na fase de adaptação e nos períodos mais quentes, mas o excesso de água deve ser evitado. Mariana Andrade ressalta a importância de remover as flores murchas e as hastes secas. “Essa limpeza simples mantém o conjunto sempre bonito e estimula a planta a concentrar energia em novos botões”, explica.



