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Agro

Pedidos de recuperação judicial no agronegócio disparam e alcançam maior patamar desde 2021

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Pedidos de recuperação judicial no agronegócio disparam e alcançam maior patamar desde 2021
Resumo

• O agronegócio brasileiro registrou 628 pedidos de recuperação judicial no terceiro trimestre, maior volume desde 2021, indicando agravamento das dificuldades financeiras no setor.
• O número representa crescimento de 147% em relação ao mesmo período do ano anterior, refletindo crédito mais restrito e pressão intensa sobre o fluxo de caixa no campo.
• Produtores rurais, tanto pessoa física quanto jurídica, concentram a maior parte das solicitações, com destaque para sojicultores e pecuaristas.
• Estados líderes na produção agropecuária, como Mato Grosso, Goiás e Paraná, aparecem no topo do ranking de pedidos, mostrando alcance nacional do problema.
• Empresas da cadeia agroindustrial também ampliaram as solicitações, evidenciando que a crise financeira ultrapassa a produção rural e atinge toda a estrutura do setor.

O terceiro trimestre marcou um ponto de inflexão preocupante para o agronegócio brasileiro. Entre julho e setembro, produtores rurais e empresas da cadeia agropecuária apresentaram 628 pedidos de recuperação judicial, segundo dados da Serasa Experian. O número representa um salto de 147% em relação ao mesmo período do ano anterior e configura o maior volume registrado desde 2021, sinalizando que a deterioração das condições financeiras no campo deixou de ser pontual para se tornar estrutural.

Esse movimento ocorre em um contexto de restrição de crédito, custos elevados e margens pressionadas, fatores que vêm se acumulando ao longo do ano. Assim, o crescimento contínuo das solicitações ao longo de 2025 culminou no pico observado no terceiro trimestre, quando diferentes perfis de produtores e empresas passaram a buscar proteção judicial contra credores para reorganizar dívidas e preservar operações.

Crédito mais caro e caixa pressionado

De acordo com a Serasa Experian, o avanço dos pedidos reflete, sobretudo, a piora das condições de financiamento e as dificuldades para manter o equilíbrio do fluxo de caixa. A elevação dos juros, aliada à volatilidade de preços e a ciclos de investimento mal sincronizados, tornou mais difícil a rolagem de passivos, especialmente para quem já vinha operando no limite financeiro.

Nesse cenário, Marcelo Pimenta, líder de agronegócio da Serasa Experian, avalia que o aumento das recuperações judiciais evidencia um problema acumulado. Para ele, produtores e empresas da cadeia agropecuária enfrentam obstáculos crescentes para honrar compromissos, principalmente aqueles que, ao longo dos anos, optaram por postergar ajustes internos. Segundo o executivo, os desafios são maiores “em especial para aqueles que já estão há alguns anos rolando dívidas sem fazer os ajustes necessários para diminuir custos, rever patrimônio e encerrar expansões mal planejadas”.

A leitura é de que a recuperação judicial tem sido utilizada não apenas como último recurso, mas como instrumento de reorganização diante de um ambiente financeiro mais adverso e menos tolerante a desequilíbrios prolongados.

Distribuição regional dos pedidos

A análise por Estado revela que o impacto não está restrito a uma única região. Mato Grosso concentrou o maior número de solicitações de proteção judicial no período, refletindo o peso do Estado na produção nacional de grãos e na pecuária. Na sequência aparecem Goiás e Paraná, dois polos relevantes do agronegócio, o que reforça a abrangência do movimento e sua conexão com fatores macroeconômicos, e não apenas com problemas locais.

Essa dispersão geográfica indica que a pressão financeira se espalha por diferentes cadeias produtivas e modelos de negócio, afetando desde grandes operações altamente capitalizadas até estruturas mais enxutas e dependentes de crédito de curto prazo.

Perfil dos produtores que recorrem à Justiça

Os dados da Serasa Experian mostram que produtores rurais que atuam como pessoa física responderam por 255 pedidos no terceiro trimestre, mais do que o dobro do registrado um ano antes. Dentro desse grupo, arrendatários e grupos econômicos ou familiares apresentaram 84 solicitações, enquanto grandes proprietários somaram 69 pedidos. Pequenos e médios produtores também figuram de forma relevante, com 58 e 44 solicitações, respectivamente, o que evidencia que a dificuldade atravessa diferentes escalas de produção.

Já entre os produtores que operam como pessoa jurídica, foram contabilizados 242 pedidos no período. A soja lidera entre as atividades mais afetadas, com 156 solicitações, seguida pela pecuária bovina, responsável por 45 pedidos. Esses números refletem tanto a importância dessas cadeias no agronegócio nacional quanto a sensibilidade delas a oscilações de mercado e custos operacionais.

Empresas da cadeia agropecuária ampliam pedidos

Além dos produtores, as empresas ligadas ao agronegócio também intensificaram o uso da recuperação judicial. No terceiro trimestre, foram registrados 131 pedidos, mais que o dobro do volume observado no mesmo intervalo de 2024. O comércio atacadista de produtos agropecuários primários aparece como o segmento mais impactado, com 31 solicitações, seguido pela indústria de processamento de agroderivados, com 27, e pela agroindústria de transformação primária, com 25.

Esse avanço entre empresas reforça a ideia de que a crise de liquidez não se limita à porteira para dentro, mas se estende por toda a cadeia, afetando fornecedores, processadores e distribuidores. Assim, a recuperação judicial passa a ser um termômetro da tensão financeira que atravessa o setor e um indicativo de que ajustes mais profundos ainda podem estar por vir.

  • Pedidos de recuperação judicial no agronegócio disparam e alcançam maior patamar desde 2021

    Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Agronamidia. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em agronomia, agronegócio, veterinária, desenvolvimento rural, jardinagem e paisagismo, me dedico a garantir a precisão e a relevância de todas as publicações.

    E-mail: [email protected]