Conab acelera mecanização no campo e inicia distribuição nacional de máquinas para a agricultura familiar

A modernização da agricultura familiar brasileira entrou em uma nova fase nesta semana. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deu início à entrega de milhares de equipamentos agrícolas que prometem transformar a rotina produtiva de pequenos agricultores, ampliar a escala de produção e fortalecer políticas públicas voltadas à segurança alimentar. A ação faz parte do projeto Mecaniza+: Modernização da Agricultura Familiar e do Programa Arroz da Gente, com investimento aproximado de R$ 13 milhões viabilizado por meio de um Termo de Execução Descentralizada firmado com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN).

Desde o início das entregas, o foco está na inclusão produtiva e no fortalecimento de organizações rurais espalhadas pelo país. Ao todo, cerca de 440 associações e cooperativas serão beneficiadas, impactando diretamente mais de 8 mil famílias de agricultores e agricultoras familiares, o que representa aproximadamente 40 mil pessoas, entre homens, mulheres, jovens e comunidades tradicionais, como quilombolas.

Uma nova etapa para a agricultura familiar brasileira

A iniciativa prevê a distribuição de 150 kits multifunção, que somam cerca de 1,2 mil itens, incluindo motocultivadores, plantadeiras, adubadoras, roçadeiras, enxadas rotativas, minitratores, carretas agrícolas e outros implementos voltados à pequena produção. Além disso, 72 colheitadeiras de arroz também fazem parte do pacote. A expectativa é que todas as entregas sejam concluídas até março de 2026, contemplando entidades da agricultura familiar nos 27 estados brasileiros que atuam em políticas públicas executadas pela Conab, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa de Valorização da Sociobiodiversidade e do Extrativismo (Sociobio Mais) e o Programa de Venda em Balcão (ProVB).

Para o presidente da Conab, Edegar Pretto, a ação simboliza uma virada histórica no cotidiano do campo. “É um grande passo para a modernização e fortalecimento da agricultura familiar. Eu costumo falar que é como se fosse a aposentadoria da enxada. Com estas máquinas, melhoram as condições de trabalho dos agricultores familiares e aumenta a sua produção, não só para programas da Conab, como o PAA e o ProVB, mas também para o mercado consumidor”, afirmou.

Expansão produtiva e estratégia nacional

Além de ampliar a mecanização, a iniciativa está alinhada à retomada do papel estratégico da Conab na formação de estoques públicos e na política de abastecimento. Pretto lembrou que, após mais de uma década, a Companhia voltou a recompor estoques reguladores e a distribuir arroz para todas as regiões do país. Nesse contexto, a descentralização da produção é vista como essencial. “O Rio Grande do Sul continuará sendo referência, mas precisamos espalhar a produção pelo Brasil. Estamos levando máquinas, assistência técnica e sementes”, destacou.

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, reforçou que a recuperação institucional da Conab tem efeitos diretos no bolso do consumidor e na renda rural. Segundo ele, a retomada do PAA, a recomposição dos estoques e o fortalecimento da mecanização — que avançou de 18% para 27% nos últimos anos — são pilares para consolidar a segurança alimentar e impulsionar uma agricultura mais sustentável, com base na agroecologia.

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Tecnologia, monitoramento e capacitação no centro do projeto

Durante a cerimônia que marcou o início das entregas, 13 entidades de 13 estados receberam simbolicamente os primeiros equipamentos. Como contrapartida, os produtores beneficiados passam a fornecer 10% a mais de alimentos para os programas da Conab. A projeção é que, com a automação, haja um aumento médio de 30% na produção dessas famílias.

O diretor de Desenvolvimento, Inovação e Gestão de Pessoas da Conab, Lenildo Morais, ressaltou que a distribuição dos maquinários representa apenas uma parte de um processo mais amplo de reconstrução institucional. Desde 2024, a Companhia capacitou mais de 2,2 mil empregados, estruturou programas de pós-graduação e ampliou parcerias para cursos técnicos e de graduação. Segundo ele, todos os equipamentos entregues contarão com monitoramento integrado, permitindo acompanhar localização, tempo e forma de uso, além de assistência técnica contínua. “Estamos reconstruindo cooperativas fragilizadas pela falta de políticas públicas e preparando um novo ciclo produtivo, com inovação e sucessão rural”, afirmou.

Já o diretor de Política Agrícola e Informações, Silvio Porto, destacou a importância do IFRN na concepção do projeto, especialmente no Programa Arroz da Gente. De acordo com ele, o modelo foi construído a partir da escuta direta das comunidades, que indicaram os equipamentos mais adequados às suas realidades. O programa já alcança 507 comunidades em 17 estados e vem alterando a geografia da produção de arroz no país. “As máquinas distribuídas hoje representam inteligência e estratégia produtiva, apoiadas por tecnologia de monitoramento em tempo real”, pontuou.

Educação, território e dignidade no campo

Para o pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento do IFRN, Raphael Siqueira Fontes, o projeto reforça o papel da educação pública como vetor de desenvolvimento. Ele destacou que parte da tecnologia embarcada nos equipamentos foi desenvolvida por alunos da instituição e que equipes técnicas capacitadas acompanharão sua aplicação nas propriedades rurais.

Representantes das organizações beneficiadas também enfatizaram o impacto social da iniciativa. Nelson Ferreira dos Santos, do Polo Sindical da Borborema, na Paraíba, observou que a mecanização chega em um momento decisivo, marcado pela redução da mão de obra no meio rural. Para ele, os equipamentos trazem a modernidade necessária para ampliar a escala produtiva e garantir alimentos de qualidade. Da Comunidade Kalunga do Tocantins, Dona Deta resumiu o sentimento de muitos agricultores tradicionais ao afirmar que trabalhar apenas com a enxada é “sofrido” e que a chegada das máquinas representa futuro, renda e dignidade para as famílias do território.

Programas estruturantes para o futuro da produção

Lançado oficialmente em novembro, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, o projeto Mecaniza+ busca enfrentar um dos principais gargalos da agricultura familiar: a baixa mecanização. A proposta é modernizar a produção de pequenos agricultores, promovendo inclusão produtiva e fortalecendo a segurança alimentar e nutricional.

Complementarmente, o Programa Arroz da Gente, instituído por portaria interministerial em dezembro de 2024, tem como foco ampliar a produção nacional de arroz, diversificar sistemas produtivos e aumentar a renda no campo. Juntas, as duas iniciativas sinalizam uma estratégia de longo prazo para fortalecer a agricultura familiar brasileira, combinando tecnologia, política pública e valorização dos territórios rurais.