Agro
IBGE avança nos preparativos do novo Censo ao concluir etapa inédita de testes em campo
Published
6 horas agoon

O Brasil rural começou a ser revisitado de forma cuidadosa e estratégica pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ao encerrar a primeira prova-piloto do 12º Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola, o IBGE deu um passo decisivo para garantir que a próxima grande fotografia do campo brasileiro seja mais precisa, sensível à diversidade produtiva e alinhada à complexidade dos territórios. Realizados entre os dias 1º e 12 de dezembro, os testes percorreram áreas do Maranhão, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, reunindo experiências distintas que ajudaram a validar procedimentos, questionários e sistemas operacionais.
Essa primeira fase integra um conjunto maior de ensaios que antecedem o levantamento nacional, que ainda contará com uma segunda prova-piloto e um censo experimental. A proposta é clara: testar, corrigir e aprimorar todos os aspectos da operação censitária antes que ela alcance, de fato, os milhões de estabelecimentos agropecuários espalhados pelo país.
Testes em campo e diversidade como eixo central
Desde o início, a prova-piloto foi pensada para contemplar diferentes biomas, arranjos produtivos e formas de ocupação do território. Recenseadores, assistentes técnicos, coordenadores e observadores percorreram setores censitários variados, dialogando com agricultores familiares, grandes produtores, comunidades tradicionais e populações que vivem da extração e do manejo sustentável dos recursos naturais.
Em Minas Gerais, por exemplo, o contraste entre regiões foi um dos pontos centrais do teste. No município de Grão Mogol, no Norte do estado, a presença de comunidades tradicionais como geraizeiros e veredeiros permitiu aplicar, pela primeira vez, um recorte específico do questionário voltado a esses grupos, uma das novidades do 12º Censo Agropecuário. Após o encerramento da coleta, a equipe local se reuniu para avaliar os resultados e identificar ajustes necessários.
“O teste foi muito bem-sucedido. Conseguimos identificar algumas inconsistências e pontos em que os procedimentos e todo o fluxo de trabalho podem ser aprimorados, e esse é um dos principais objetivos da prova-piloto”, destacou Gabriel Bias Fortes, coordenador de área em Grão Mogol, ao ressaltar que os aprendizados servirão de base para as próximas etapas.
Já no Sul de Minas, Alfenas foi escolhida pela diversidade produtiva que concentra. Grandes áreas de café e soja convivem com estabelecimentos de agricultura familiar, além da pecuária e da produção aquícola no entorno do lago de Furnas. Segundo Humberto Sette, assistente técnico da prova-piloto no município, o objetivo de testar o questionário em realidades contrastantes foi plenamente alcançado. “Foi um teste muito positivo, no qual conseguimos levantar materiais e dados para análise, que permitirão aprimorar o 12º Censo Agro”, avaliou.
Babaçu, agricultura familiar e modos de vida no Maranhão
No Maranhão, o pré-teste foi realizado em Bacabal e trouxe à tona uma realidade marcada pela forte presença do babaçu. Durante as duas semanas de trabalho, os recenseadores mapearam comunidades onde a extração e a quebra do coco atravessam gerações, especialmente entre mulheres que mantêm viva essa atividade tradicional. A produção de carvão e de azeite a partir do babaçu aparece como complemento importante de renda, ao lado da criação de gado, ovelhas e galinhas.
A coleta também revelou o papel da roça como estratégia de subsistência para muitas famílias, evidenciando como diferentes formas de produção coexistem em um mesmo território. Esses registros ajudam o IBGE a calibrar o questionário e a abordagem, garantindo que atividades nem sempre visíveis nas estatísticas oficiais sejam corretamente captadas.
Vale do São Francisco e a visibilidade do pequeno produtor
Na Bahia, a prova-piloto ocorreu nos municípios de Juazeiro e Sobradinho, no Vale do São Francisco, uma das regiões mais emblemáticas da fruticultura irrigada brasileira. Dados anteriores já indicavam que mais de 80% dos estabelecimentos locais pertencem à agricultura familiar, cenário que se confirmou durante os testes.
Entre os produtores visitados estava Etelvir Oliveira, que cultiva manga em uma área de oito hectares em Juazeiro. Ao receber os recenseadores, ele destacou a importância de participar do processo. “Achei muito importante, porque é uma pesquisa que precisa estar sempre atualizada. Me sinto sendo visto”, afirmou, sintetizando o impacto simbólico do censo para quem vive da terra.
A relevância da iniciativa também chamou a atenção da imprensa regional. Programas e telejornais locais acompanharam o trabalho de campo, ampliando o alcance do debate sobre a importância de dados atualizados para o planejamento do setor agropecuário.
Além disso, a diversidade cultural marcou a experiência baiana. Aldeias indígenas, comunidades de pescadores artesanais, grupos de fundo e fecho de pasto e caatingueiros participaram da prova-piloto, permitindo testar procedimentos de abordagem e identificar a necessidade de adaptações metodológicas diante da pluralidade dos sistemas agroalimentares existentes no país.
Mata Atlântica, subsistência e aprendizado no Rio de Janeiro
Em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro, mais de 250 produtores rurais responderam ao questionário da primeira prova-piloto, contribuindo diretamente para o aprimoramento da pesquisa nacional. Em áreas de relevo acidentado e cercadas por Mata Atlântica preservada, a coleta revelou uma realidade marcada pela produção voltada principalmente à subsistência.
Foi nesse contexto que a equipe encontrou Juvenildo Maia, agricultor de 63 anos que vive há cinco décadas no campo. Sua propriedade, hoje dedicada apenas ao consumo da família, reflete o perfil predominante da localidade, onde muitos produtores deixaram de comercializar seus excedentes ao longo dos anos.
O trabalho em Nova Friburgo também serviu como experiência formativa para novos servidores do IBGE. A técnica Camila Giron de Souza, que ingressou recentemente na instituição, percorreu propriedades em regiões de difícil acesso, acompanhando de perto os desafios e aprendizados da coleta em campo. “Esta foi uma oportunidade única e enriquecedora”, relatou, ao destacar que a vivência foi além do objetivo técnico do pré-teste e ampliou sua compreensão sobre a diversidade do meio rural brasileiro.
Ajustes hoje para precisão amanhã
Ao concluir a primeira prova-piloto, o IBGE consolida um conjunto valioso de observações que servirão de base para ajustes no questionário, nos sistemas de gestão e nos procedimentos de coleta. A estratégia de testar o censo em realidades tão distintas reforça o compromisso da instituição em produzir dados que representem, de forma fiel, a complexidade do campo brasileiro.
Assim, quando o 12º Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola for oficialmente realizado, em 2027, ele chegará aos territórios com métodos mais afinados, maior sensibilidade às especificidades locais e capacidade ampliada de retratar quem produz, preserva e vive do campo no Brasil.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Agronamidia. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em agronomia, agronegócio, veterinária, desenvolvimento rural, jardinagem e paisagismo, me dedico a garantir a precisão e a relevância de todas as publicações.
E-mail: [email protected]

