Agro
Paraná consolida protagonismo e quase mil toneladas de cogumelos impulsionam nova fase da produção estadual
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5 horas agoon

Nos últimos dez anos, o Paraná redesenhou o mapa nacional da produção de cogumelos. O que antes era uma atividade pontual, quase artesanal, ganhou escala, método e identidade própria. Em 2024, a colheita estadual alcançou 982 toneladas, número que representa mais que o dobro do volume registrado uma década antes. O dado impressiona ainda mais porque a contagem atual considera apenas champignon e shiitake, enquanto levantamentos anteriores incluíam uma variedade maior de espécies.
Esse avanço não ocorreu por acaso. Ele reflete uma combinação rara entre organização coletiva, adaptação climática favorável e mudança no comportamento do consumidor, cada vez mais atento à procedência dos alimentos e à busca por produtos frescos, naturais e com menor grau de processamento.
Cooperativismo e qualidade como motores do crescimento
Ao invés de apostar em grandes estruturas isoladas, o modelo que se fortaleceu no estado foi o da produção cooperada, especialmente entre agricultores familiares. A união permitiu padronizar processos, facilitar a comercialização e ampliar o acesso a mercados mais exigentes, inclusive aqueles que demandam certificações específicas.
A aposta na qualidade também se tornou decisiva. O crescimento do consumo de cogumelos frescos no Brasil abriu espaço para produtores que investiram na venda in natura, reduzindo a dependência de conservas e produtos industrializados. Além disso, a certificação orgânica passou a funcionar como diferencial competitivo, agregando valor ao produto final e ampliando possibilidades de comercialização.
Regiões que concentram o cultivo
A produção paranaense se organiza de forma bastante concentrada. Duas regiões respondem por quase 90% de todo o volume colhido no estado. A Região Metropolitana de Curitiba lidera com folga, seguida pelos Campos Gerais. Municípios como São José dos Pinhais, Tijucas do Sul e Castro se destacam não apenas pelos números, mas também pela consolidação de polos produtivos especializados.
O fator climático explica boa parte dessa concentração. O cultivo de cogumelos exige ambientes úmidos e temperaturas mais baixas, condições naturalmente presentes nessas regiões. Em áreas mais quentes, a necessidade de refrigeração constante eleva os custos e altera o perfil do produtor, favorecendo estruturas maiores e mais capitalizadas.
Agricultura familiar encontra espaço no setor
Mesmo com o avanço tecnológico, o cultivo de cogumelos no Paraná segue fortemente ligado à agricultura familiar. Estimativas do setor indicam que a maior parte dos produtores brasileiros atua em pequena escala, aproveitando incentivos fiscais importantes para o produto in natura, que conta com isenções tributárias relevantes quando comparado às versões industrializadas.
Esse cenário criou um ambiente favorável para a diversificação da renda no meio rural. Propriedades antes pouco aproveitáveis para outras culturas passaram a encontrar nos cogumelos uma alternativa viável, especialmente em áreas úmidas e sombreadas, onde o cultivo tradicional apresenta limitações.
Técnica, aprendizado e mudança de métodos
O crescimento, no entanto, veio acompanhado de desafios. A produção de cogumelos é sensível, exige controle rigoroso de umidade, temperatura e higiene. Experiências iniciais sem orientação técnica adequada resultaram, em muitos casos, em perdas e abandono da atividade. Com o tempo, o acesso a cursos, capacitações e insumos de melhor qualidade transformou esse cenário.
Métodos mais eficientes, como o cultivo em blocos inoculados, reduziram drasticamente o tempo entre o plantio e a colheita, tornando possível a geração de renda contínua ao longo do ano. A padronização desses processos também facilitou o controle sanitário e a regularidade da produção, fatores essenciais para atender mercados maiores e mais exigentes.
O protagonismo do champignon e a força do mercado fresco
Embora o shiitake tenha conquistado espaço, o champignon segue como o carro-chefe da produção paranaense, respondendo pela maior parte do volume colhido. Sua popularidade nas prateleiras, aliada ao ciclo mais curto de cultivo, explica a preferência de muitos produtores.
Nos últimos anos, porém, houve uma inflexão clara na forma de comercialização. A venda do cogumelo fresco passou a ser mais atrativa economicamente do que a versão em conserva, tanto pela valorização do produto natural quanto pela concorrência com itens importados, que chegam ao país com preços mais baixos e qualidade inferior. Essa mudança reforçou a estratégia de focar em frescor, sabor e procedência como diferenciais competitivos.
Insumos, logística e os próximos passos
A evolução do setor também está diretamente ligada à consolidação de fornecedores nacionais de substratos, sementes e materiais de cobertura, algo que antes era um gargalo para os produtores. O Paraná se tornou referência nesse fornecimento, criando uma base sólida para o crescimento contínuo da atividade.
Apesar dos avanços, desafios permanecem. A modernização das instalações, especialmente entre pequenos produtores, e a melhoria da logística de transporte refrigerado são pontos críticos para sustentar a expansão. A ausência de cadeias de frio adequadas em parte do varejo ainda impõe limites à distribuição, especialmente para mercados mais distantes.
Ainda assim, o cenário é de otimismo. A combinação entre consumo crescente, organização produtiva e domínio técnico indica que o cultivo de cogumelos no Paraná deixou de ser uma atividade complementar para se consolidar como um segmento estratégico da horticultura estadual, com potencial de crescimento sustentável nos próximos anos.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Agronamidia. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em agronomia, agronegócio, veterinária, desenvolvimento rural, jardinagem e paisagismo, me dedico a garantir a precisão e a relevância de todas as publicações.
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