Agro
Revitis completa seis anos e consolida nova fase da uva no Paraná, com apoio direto a 444 famílias
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20 horas atrásem
Por
Claudio P. Filla
Há políticas públicas que, quando funcionam, mudam a paisagem sem fazer alarde. No campo, essa transformação costuma aparecer primeiro nos detalhes: um parreiral mais uniforme, uma muda que pega com vigor, uma agroindústria familiar que finalmente regulariza a produção de suco, vinho ou geleia. É nesse tipo de virada silenciosa que o Programa de Revitalização da Viticultura Paranaense (Revitis) se encaixa. Lançado em novembro de 2019 pelo Governo do Paraná para fortalecer a cadeia produtiva da uva em diferentes regiões do Estado, o programa chega ao sexto ano com um número expressivo: 444 produtores familiares atendidos em 33 municípios, com mais de R$ 9 milhões destinados a fundo perdido.
Ao olhar esse retrato, é difícil separar o resultado econômico da dimensão estratégica. Afinal, viticultura não é só colheita. É planejamento do parreiral, escolha de material propagativo, manejo cuidadoso, técnica para reduzir perdas, além de caminhos consistentes de comercialização. Por isso, o Revitis foi desenhado para atuar de forma integrada e dar ao agricultor familiar mais previsibilidade, além de ampliar sua capacidade de competir em mercados que valorizam origem, qualidade e regularidade de oferta.
Uma política construída em quatro frentes, com impacto que vai além do parreiral
Desde o início, o programa estimulou não apenas a produção de uvas, mas também a agregação de valor com produtos derivados, como sucos, geleias e vinhos. Assim, a renda deixa de depender exclusivamente do fruto in natura e passa a contar com alternativas que podem atravessar melhor as oscilações de preço e de clima. Nesse movimento, a viticultura familiar ganha espaço como atividade capaz de gerar trabalho, fortalecer comunidades rurais e manter propriedades produtivas ao longo do tempo.
Para sustentar essa lógica, o Revitis se estrutura em quatro eixos que funcionam como engrenagens do mesmo sistema: incentivo à pesquisa e à produção, reorganização da comercialização, desenvolvimento do turismo e apoio à agroindústria. A força do modelo está justamente na soma. Enquanto a pesquisa ajuda a ajustar sistemas de cultivo à realidade de cada região, a comercialização abre caminho para que a produção encontre mercado. Ao mesmo tempo, o turismo rural cria novas oportunidades, e o apoio às agroindústrias permite que a matéria-prima se transforme em produtos com identidade e maior valor agregado.
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Do planejamento técnico ao mercado, mais segurança para o produtor familiar
Uma das marcas do programa é tratar a viticultura como cadeia, e não como ação isolada. Por isso, além do incentivo financeiro, há um componente técnico relevante: o desenvolvimento e a adaptação de tecnologias para que cada produtor consiga explorar as condições ambientais da sua região com mais eficiência. Nesse processo, pesquisadores do IDR-Paraná trabalharam na construção de sistemas de cultivo adequados a diferentes situações, enquanto técnicos dos setores público e privado foram capacitados para orientar a execução dos projetos conforme a realidade de cada propriedade.
Esse tipo de assistência faz diferença porque reduz decisões “no escuro”. Quando o produtor entende melhor a escolha de variedades, o manejo, o espaçamento e o comportamento do parreiral ao longo do ciclo, ele erra menos, perde menos e colhe com mais qualidade. Além disso, cria-se uma base mais sólida para o passo seguinte: vender melhor, com mais constância e com produto mais valorizado.
Pesquisa aplicada e uma rede para acelerar soluções no Paraná
Em 2021, as demandas levantadas pelos produtores ajudaram a impulsionar uma iniciativa que reforça o caráter técnico do Revitis: a criação da Rede Paranaense de Pesquisa em Viticultura. A rede congrega professores, pesquisadores, técnicos e estudantes de instituições federais e estaduais do Paraná envolvidos direta ou indiretamente com a vitivinicultura, ampliando a troca de conhecimento e encurtando o caminho entre pesquisa e aplicação prática.
Na prática, isso significa que as dores do campo podem virar pauta de laboratório e, depois, voltar como solução ajustada ao produtor. Além disso, a articulação entre instituições fortalece a continuidade do trabalho, algo essencial em culturas perenes, nas quais o resultado real não aparece de um mês para o outro, mas se constrói safra após safra.
O viveiro de mudas e a importância de começar certo
Também em 2021 ocorreu o maior investimento do Governo do Estado no programa, com a destinação de cerca de R$ 750 mil a fundo perdido para implantar, na unidade do IDR-Paraná em Santa Tereza do Oeste, um viveiro de mudas voltado à multiplicação de material propagativo com qualidade genética e fitossanitária. A iniciativa responde a uma verdade conhecida por qualquer viticultor experiente: o parreiral nasce da muda, e o futuro da produção costuma ser decidido bem antes do primeiro cacho.
A pesquisadora Alessandra Detoni, responsável pelo viveiro, resume essa lógica ao chamar a muda de “alicerce do pomar”. Em sua avaliação, quando o produtor trabalha com material de procedência desconhecida, sem controle e sem certificação, ele abre a porta para problemas que podem comprometer a atividade.
“Se eu tenho um material propagativo com qualidade genética e fitossanitária, o meu pomar já está iniciando de uma maneira positiva. Quando eu coloco materiais que eu não sei a procedência, que eu não conheço as plantas matrizes, que não têm nenhum controle, ou compro a muda que não tem um processo de certificação, de acompanhamento dos órgãos reguladores, eu já estou garantindo o insucesso da minha atividade e levando problemas para a minha área”, afirma.
O ponto central, portanto, não é apenas produzir mais, mas produzir melhor e com menos risco. E isso começa com a escolha certa, porque, no campo, erros de base custam caro e demoram a ser corrigidos.
Sustentabilidade, tradição e competitividade na mesma narrativa
Ao integrar pesquisa, inovação, turismo rural e apoio direto às agroindústrias, o Revitis também reforça uma leitura mais ampla sobre o papel do Paraná na agricultura. Não se trata apenas de aumentar números, mas de consolidar um modelo em que a produção sustentável e a valorização da agricultura familiar caminham juntas, com identidade regional e responsabilidade ambiental. Para o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Marcio Nunes, o impacto do programa simboliza essa vocação.
“Com o Revitis, fortalecemos uma cadeia produtiva que une sustentabilidade, inovação e tradição. A viticultura paranaense mostra que é possível produzir com qualidade, preservar o meio ambiente e ampliar oportunidades para as famílias rurais. Esse é mais um exemplo de como o Paraná se consolida como o supermercado do mundo, oferecendo alimentos e bebidas de excelência e com responsabilidade”, ressaltou.
E é justamente essa soma — técnica no campo, organização para vender, incentivo a transformar e capacidade de contar histórias por meio do turismo rural — que ajuda a explicar por que, seis anos depois do lançamento, o programa não se resume a números. Ele se traduz em parreirais mais planejados, produtos mais diversos e famílias com mais ferramentas para seguir produzindo, apesar dos desafios que sempre acompanham a vida agrícola.

Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Agronamidia. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em agronomia, agronegócio, veterinária, desenvolvimento rural, jardinagem e paisagismo, me dedico a garantir a precisão e a relevância de todas as publicações.
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