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Onças à beira da cerca: mapeamento de 14,3 mil avistamentos expõe desafios da paisagem rural

Pesquisa nacional analisa a movimentação de nove espécies de felinos e indica como fragmentação de habitats e manejo inadequado intensificam tensões entre fazendas e vida silvestre

by Claudio P. Filla
5 de dezembro de 2025
in Natureza
Foto: Denis Ferreira Netto/SEDEST

Foto: Denis Ferreira Netto/SEDEST

Resumo
  • O estudo analisou 14,3 mil registros de felinos brasileiros, revelando como a fragmentação de habitats altera seus deslocamentos e intensifica conflitos com humanos.
  • A conversão de áreas naturais para agropecuária, estradas e cidades pressiona espécies como onça-pintada e onça-parda, reduzindo presas e empurrando os animais para zonas rurais.
  • Pesquisadores identificaram três perfis ecológicos entre nove espécies, mostrando diferentes graus de tolerância a ambientes modificados e destacando exceções importantes.
  • A convivência com fazendas melhorou em algumas regiões, graças a manejo adequado e turismo de observação, embora tensões persistam pela perda de habitat e mudanças no comportamento das presas.
  • O uso de dados abertos e análises em larga escala mostrou lacunas de pesquisa em biomas como a Amazônia e reforçou a importância de integrar ciência, conservação e práticas rurais.

Os grandes felinos brasileiros, como a onça-pintada, a onça-parda e a jaguatirica, são animais moldados por milhares de anos de evolução em ambientes contínuos de mata, campos naturais e áreas alagadas. Eles precisam de extensões amplas de habitat preservado para caçar, se reproduzir e circular com segurança. Entretanto, a expansão acelerada da agropecuária e de outras atividades econômicas tem redesenhado esses cenários. Do Cerrado à Amazônia, passando pelo Pantanal, a paisagem se fragmenta em ilhas de vegetação nativa cercadas por pastagens, plantações, estradas e cidades, criando um tabuleiro bem mais hostil para esses predadores. No caso da onça-pintada, por exemplo, estimativas apontam que, apenas entre Pará e Mato Grosso, já foram suprimidos cerca de 27 milhões de hectares de seu habitat original, uma área superior ao território do Reino Unido.

Nesse contexto, compreender como diferentes espécies de felinos respondem a essas mudanças deixa de ser apenas uma curiosidade científica e passa a ser uma ferramenta vital de conservação. Afinal, cada trecho de mata desmatado, cada estrada aberta e cada fazenda cercada altera não só o mapa físico da região, mas também o mapa mental desses animais, que passam a ajustar rotas, hábitos e até sua dieta para sobreviver.

Um país inteiro visto pelos olhos dos felinos

Para tentar enxergar o Brasil a partir da perspectiva dos grandes gatos, uma equipe de pesquisadores da Unesp e de outras instituições nacionais decidiu reunir, em uma mesma base, aquilo que normalmente aparece de forma dispersa em relatórios, artigos e bancos de dados de campo. A ideia foi simples e ambiciosa ao mesmo tempo: compilar milhares de observações de felinos selvagens, georreferenciadas, e cruzar essas informações com o uso do solo em diferentes regiões do país.

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O resultado foi um grande mosaico de dados, que reuniu aproximadamente 14,3 mil registros de avistamentos de nove espécies de felinos, com coordenadas precisas de onde cada um desses encontros ocorreu. Esses registros vieram, em grande parte, de armadilhas fotográficas — as chamadas camera traps — camufladas na vegetação para registrar a fauna de forma discreta, além de outras bases públicas que, somadas, cobrem diferentes biomas e contextos paisagísticos.

Aliás, para relacionar a presença dos felinos com o tipo de ambiente em que circulam, os cientistas recorreram a mapas detalhados de uso e cobertura do solo. Esses mapas indicam quais áreas são ocupadas por agropecuária, quais ainda mantêm vegetação nativa, onde há cidades, rodovias, hidrelétricas e outros tipos de intervenção humana. A partir desse cruzamento, foi possível analisar se cada espécie tende a permanecer em ambientes mais naturais, se se aproxima de áreas agrícolas, se evita estradas ou se tolera paisagens altamente modificadas.

Vanesa Bejarano Alegre, que concluiu o doutorado em Ecologia, Evolução e Biodiversidade no Instituto de Biociências (IB) da Unesp, câmpus de Rio Claro, assina o trabalho como autora principal, em parceria com o Laboratório de Ecologia Espacial e Conservação (LEEC). Ela destaca que esse tipo de síntese estatística é essencial justamente por superar a visão fragmentada de estudos locais. Pesquisadores de campo conhecem profundamente os animais de uma determinada região; porém, nem sempre conseguem ter uma visão de conjunto, capaz de apontar lacunas, padrões invisíveis e contradições na literatura disponível.

Três perfis ecológicos para nove espécies

Para organizar a análise, Bejarano e seus colegas propuseram uma hipótese que classificava as nove espécies em três grandes grupos ecológicos. De um lado, estariam os generalistas: felinos com maior flexibilidade para frequentar paisagens alteradas, incluindo áreas agrícolas, bordas de pastagens e zonas de contato mais intenso com a presença humana. Em seguida viriam os especialistas flexíveis, que ainda dependem de mosaicos com boa quantidade de vegetação nativa, mas têm certa tolerância a ambientes antrópicos. Por fim, os especialistas estritos, aqueles que praticamente se restringem às matas mais densas e evitam ao máximo espaços abertos.

Os 14,3 mil registros funcionaram como um grande teste em escala nacional para essa classificação teórica. De modo geral, a divisão proposta se mostrou coerente, embora algumas espécies tenham surpreendido e exigido ajustes finos. No grupo dos generalistas, por exemplo, entraram a onça-parda (Puma concolor), o jaguarundi (Herpailurus yagouaroundi) e o gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi). A onça-parda confirmou sua reputação de espécie adaptável, sendo avistada com frequência nas bordas de áreas rurais, próximo a pastos e plantações.

O jaguarundi foi ainda mais ousado do que se imaginava. Em vez de manter apego à mata fechada, a espécie apareceu com frequência em zonas agrícolas, sugerindo uma relação curiosa com ambientes modificados, quase como se preferisse esses cenários a florestas contínuas. Já o gato-do-mato-grande se mostrou muito mais reservado. Raros foram os registros próximos a fazendas ou paisagens abertas, comportamento que acaba entrando em tensão com a literatura que o colocava entre os generalistas. Não por acaso, Bejarano admite que, se fosse responder sem olhar os dados, não classificaria a espécie dessa forma.

Entre os especialistas flexíveis, grandes felinos como a onça-pintada (Panthera onca) e a jaguatirica (Leopardus pardalis) se mostraram coerentes com a hipótese inicial. Ambos evitam estradas, mas se aproveitam de paisagens naturais mais heterogêneas, em que manchas de floresta, campos úmidos e bordas de mata fornecem diferentes opções de abrigo e caça. Já os especialistas estritamente florestais, como Leopardus wiedii, L. guttulus e L. tigrinus, reforçaram sua dependência da cobertura arbórea densa, praticamente desaparecendo de ambientes abertos ou intensamente convertidos para agricultura.

Entretanto, a análise também revelou nuances importantes. A influência de estradas, por exemplo, variou de forma considerável entre as espécies, nem sempre acompanhando a categoria ecológica em que estavam inseridas. Em alguns casos, a proximidade de rodovias se mostrou mais ameaçadora do que o previsto; em outros, os animais pareciam contornar essas barreiras com mais habilidade. Para Bejarano, isso reforça a ideia de que, embora a classificação em grupos seja útil, a realidade no campo é sempre mais complexa, com exceções que precisam ser consideradas na hora de formular estratégias de conservação.

Da caça na mata ao gado na porteira

Em condições ideais, grandes felinos mantêm uma dieta composta por presas nativas, como capivaras, veados, jacarés e outros animais que vivem nos ambientes onde evoluíram. A floresta, os campos naturais e as áreas alagadas fornecem não apenas alimento, mas também refúgio, corredores de deslocamento e áreas de descanso. Porém, quando esses ambientes são fragmentados, degradados por mineração, substituídos por monoculturas ou cortados por obras de infraestrutura, a oferta de presas diminui sensivelmente.

Nesses momentos, alguns felinos começam a se aproximar das bordas de fazendas, galpões, currais e galinheiros. Bezerros recém-nascidos, por exemplo, podem se tornar alvos tentadores para uma onça debilitada pela escassez de presas na mata. Assim, conflitos com cães de guarda e com humanos armados tornam-se mais frequentes. A paisagem fragmentada funciona como um empurrão silencioso que leva esses animais a atravessarem cercas e entrarem em áreas onde o risco de represália é alto.

A escassez de trechos contínuos de vegetação nativa é, portanto, um dos grandes obstáculos à preservação de felinos de grande porte no Brasil. Não se trata apenas da perda de território, mas da quebra de uma rede complexa de relações ecológicas: quando as presas somem ou mudam seu padrão de movimento, os predadores são obrigados a segui-las, mesmo que isso signifique encarar estradas, propriedades rurais e ambientes muito mais expostos.

Conflitos no campo e mudanças na percepção

Se, por um lado, a paisagem vem se tornando mais hostil para as onças, por outro, a relação dos produtores com esses animais também passou por transformações ao longo das últimas décadas. Raíssa Sepúlveda Alves, mestre pelo IB da Unesp de Rio Claro, bióloga de campo da ONG Panthera Brasil e coautora do estudo, lembra que, há cerca de quinze anos, o cenário era bem mais tenso. Em muitas regiões, qualquer morte de gado, ainda que causada por doença ou acidentes, era automaticamente atribuída às onças, o que resultava em perseguições e abates recorrentes.

Com o tempo, porém, iniciativas de manejo, programas de educação ambiental e novas oportunidades econômicas começaram a alterar essa lógica. Manuais com orientações para proteger o rebanho, como recolher animais durante a noite em currais mais afastados da mata, reforçar cercas, instalar cercas elétricas e monitorar bezerros em estruturas protegidas, mostraram que medidas relativamente simples podem reduzir de forma significativa a predação.

Além disso, atividades econômicas alternativas, como o turismo de observação de onças em regiões como Porto Jofre, às margens do Rio Cuiabá, ajudaram a mudar a imagem desses felinos junto à população local. À medida que observar e fotografar onças se tornou fonte de renda, muitos moradores passaram a enxergar esses animais não como inimigos, mas como patrimônio vivo. De certa forma, as onças passaram a valer mais vivas do que mortas.

Ainda assim, a convivência está longe de ser simples. Bejarano lembra que o Brasil é um país continental, com uma enorme diversidade cultural, econômica e social. Cada comunidade rural, cada grupo de produtores, cada região lida com a presença de grandes felinos de maneira própria. Em alguns lugares, a morte de um animal silvestre é vista como solução prática; em outros, a presença da fauna é entendida como parte da identidade do território. Por isso, não existe uma fórmula única para garantir coexistência: qualquer política de conservação precisa levar em conta essas diferenças de visão, medo, tradição e expectativa.

Quando as presas mudam de rota e o estresse aumenta

As pressões sobre os felinos não vêm apenas dos humanos. As próprias presas desses carnívoros também modificam seus comportamentos em paisagens cada vez mais iluminadas, barulhentas e recortadas. Estudos mostram que animais como cervos e outros mamíferos de médio porte tendem a buscar áreas mais abertas e claras, como bordas de estradas ou terrenos alterados, na tentativa de evitar emboscadas em mata fechada.

Entretanto, esse deslocamento das presas gera um efeito cascata. Sem encontrá-las com facilidade dentro da floresta, onças e outros felinos são, pouco a pouco, empurrados para perto de estradas, lavouras e áreas de pastagem. Mesmo quando não ocorre um atropelamento ou um confronto direto, a simples necessidade de caçar e se alimentar nessas áreas tem consequências menos visíveis, mas muito sérias.

Experimentos com caixas de som, por exemplo, mostram que ruídos de origem humana — caminhões, motos, motores de barcos, vozes — provocam reações de estresse bem mais intensas nesses animais do que sons naturais, como coaxar de rãs ou o canto de insetos. Assim, as refeições em ambientes muito ruidosos tendem a ser mais rápidas, incompletas e tensas. Os níveis de cortisol no sangue ficam elevados por períodos mais longos, o que, a médio e longo prazo, pode afetar a saúde, a reprodução e a expectativa de vida desses felinos.

Em biomas como o Pantanal, onde menos de 5% da área está inserida em unidades de conservação formalmente protegidas, esse quadro é ainda mais delicado. A maior parte da paisagem está nas mãos de propriedades privadas; por isso, qualquer estratégia de conservação passa necessariamente pelo diálogo com produtores, pela criação de incentivos econômicos e pela construção de uma cultura de coexistência que vá além da simples proibição.

O poder dos dados abertos e das análises em larga escala

Por trás de todo o refinamento das análises ecológicas, há um elemento que vem ganhando cada vez mais protagonismo: a disponibilidade de dados abertos. Raíssa Sepúlveda, que hoje também é doutoranda em Ecologia na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), conhece em detalhes o esforço envolvido em cada registro. Monitorar jaguatiricas durante anos com camera traps, instalar colares de GPS em indivíduos para acompanhar seus deslocamentos, enfrentar calor extremo, alagamentos, nuvens de mosquitos e longas distâncias em campo faz parte da rotina de quem coleta essas informações.

Por isso, um dos méritos do estudo liderado por Bejarano foi justamente aproveitar de maneira criativa material que já existia, mas que muitas vezes permanecia subutilizado. Armadilhas fotográficas instaladas para estudar antas, por exemplo, acabam registrando onças, jaguatiricas e outros felinos. Quando esses dados são compartilhados em plataformas abertas, tornam-se matéria-prima para novos trabalhos, capazes de responder a perguntas diferentes das originalmente formuladas.

Bejarano ressalta que as análises empregadas no artigo são, em essência, relativamente simples e podem ser adaptadas para outras espécies e regiões do Brasil. Contudo, elas revelam com clareza algo que costuma passar despercebido: a existência de enormes vazios de informação, particularmente em biomas como a Amazônia. Muitas áreas seguem praticamente sem registros sistemáticos, seja porque a logística de pesquisa é complexa, seja porque os dados não são disponibilizados de forma aberta.

Assim, o estudo que mapeou 14,3 mil observações não apenas lança luz sobre o comportamento de grandes felinos em um país em rápida transformação, como também evidencia o quanto ainda precisamos avançar em monitoramento, compartilhamento de informações e integração entre ciência, produtores rurais e políticas públicas. Afinal, quanto melhor compreendermos o caminho que esses animais percorrem, maiores serão as chances de garantir que onças, jaguatiricas e outros felinos continuem a circular, silenciosos, pelos fragmentos de natureza que insistem em sobreviver ao nosso redor.

  • Claudio P. Filla

    Sou Cláudio P. Filla, formado em Comunicação Social e Mídias Sociais. Atuo como Redator e Curador de Conteúdo do Agronamidia. Com o apoio de uma equipe editorial de especialistas em agronomia, agronegócio, veterinária, desenvolvimento rural, jardinagem e paisagismo, me dedico a garantir a precisão e a relevância de todas as publicações.

    E-mail: [email protected]

Via: Jornal Unesp

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